ode as bolhas

sentir a água quente queimando a pele,
as pontas dos dedos derretendo,
as pequenas gotas nas orelhas levemente molhadas.
os poros abrindo e o vapor sufocante,
imersos em alguns litros de água e sabão.
processo esse que desprezo,
processo necessário para submergir no mais puro estado.
abrir o ralo,
sentir aquele vazio sugar toda a mistura:
sujeira, água, espuma dissolvida, restos de pele e pele viva.
sentir o ar pressionando aquele líquido todo e tocando em mim.
pelos joelhos, depois ombros, pescoço e nuca.
ver a água levemente revelando os mamilos,
então a barriga,
o anseio por uma estranha sensação entre aráguaclítoris.
então chegam os tornozelos, cotovelos, calcanhares e dedos,
lentamente revelados por conta de um projeto de redemoinho.
levantar e sentir a água que restou dentro de meu umbigo escorrer pelas pernas.
só então o ralo me libera os pés,
e o vazio suga os últimos restos de mim daquela banheira,
e o não vento frio fez todos os pelos se arrepiarem.