no mar imenso

deixaria pro ano que vem...
mas uma hora ou outra todas as vontades se acumulam.

queria te ver, 
(deu uma vontade muito doída e apertada de te ver)
queria fazer o nosso filme, 
filmar a brisa do mar, ouvir as luzes flicando...
queria terminar a nossa música,
só pra ver todo mundo dançando alegremente as nossas custas
queria ter feito aquela nossa viagem,
como quando desci a rua correndo e peguei o último ônibus só pra te encontrar
queria ter escrito um livro,
com todas as poesias que já te escrevi, com todas as histórias que já inventei contigo
queria que você me olhasse,
só mais um pouco, um pouquinho, demorado, pra entender a carne absorvendo a gente
queria que você me levasse a sério,
mesmo depois de todas as nossas risadas soltas e piadas bobas,
mas já estou chegando em coisas que não cabem a mim decidir
queria não continuar querendo isso tudo,
e nem imaginar que num dia de ócio você vai vir aqui e se dar o trabalho de me ler
enquanto eu, desesperadamente, entro e releio todos os dias essas palavras, 
até encontrar com o impulso de deletar e desistir, e voltar pro zero de novo.
queria que você cansasse de ficar sozinho,
ou que me machucasse forte o suficiente pra eu nunca mais te querer.
queria que você cansasse de ficar sozinho,
e mesmo sabendo de tudo de ruim que pode acontecer no nosso caminho,
queria que você tentasse,
só um pouquinho.
queria acabar com todos esses desejos de ano novo,
e não ficar esperando a sua ligação no primeiro dia do ano.





Caetano está cantando aquela música que você me mostrou:
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto você
Mar aberto
Mar adentro
Mar imenso
Mar intenso
Sem Cais


questiono a lembrança

ontem acordei desassossegada
a testa de suor dos sonhos incertos
caíram todas as tempestades
ruíram todos os solos
e ao acordar
todas as memórias criadas
pra justificar completo desespero.

nos traços das traças


aqui, onde as mariposas morrem em cima da mesa
o tempo é sócio do vento
aqui, onde as mariposas flanam, 
já não voam porque cairam
com a dor do ócio
do tempo fóssil
museu do vento
a sorte aqui não é contento,
a qualquer momento
vem o lembrar
se fui feliz
se foi...
como vento
se movendo
com asas batendo.

eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 

eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu
eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu 




agora me diga quantas vezes você pensou em você.

tão são

é difícil perceber que a vida é tão pouca coisa.

tão difícil,
tão pó,
tão oco,
tão eco,
tão tudo,
tão coisa.

e insistem em conceituar as palavras e os problemas.

delírios sobre sociopatas


Para identificar um sociopata:

Fator 1
Narcisismo agressivo
  1. Sedutor / Charme superficial
  2. Grandioso senso de auto-estima
  3. Mentira Patológica
  4. Esperteza / Manipulação
  5. Falta de remorso ou culpa
  6. Superficialidade emocional
  7. Insensibilidade / Falta de empatia
  8. Falha em aceitar a responsabilidade por ações próprias
Fator 2
Estilo de vida socialmente desviantes
  1. Necessidade por estimulação / tendência ao tédio
  2. Estilo de vida parasitárias
  3. Falta de metas de longo prazo realistas
  4. Impulsividade / Agressividade
  5. Irresponsabilidade
Traços correlacionadas com ambos fatores
  1. Várias relações conjugais de curta duração
  2. Promiscuidade


Posto isso, nada mais fácil do que se colocar a distância da pessoa até então querida. No entanto quando a outra parte se coloca a disposição da absorção de toda a dor proporcionada por um sociopata por pleno prazer pelo sofrer, seria isto um ato masoquista, ou este termo só está ligado a dor pela busca do prazer meramente sexual?
Aquele que aprecia estar envolto em problemas é portanto um masoquista ou apenas um ser livre se esforçando para sentir alguma coisa -qualquer coisa- nesta vida anestesiada?
Meio a tantos delírios penso que pobres são aqueles que pensam demais antes de sentir - seja amor, seja dor.
A racionalidade e a materialização da memória estão destruindo toda a essência no ato de ser, imagine então se fossemos minimamente humanos.

E foi assim que fiquei descontente com o mundo.
Tanta força que não pode sentir nada porque nada é tentando ser tudo.



N'essayez pas de cacher
Ne vous forcez pas à s'échapper
Ne me rappelle pas d'oublier
Mais jamais cesser de réagir

desculpa

eu sinto a culpa do mundo
mas o mundo mal me sente
toda culpa que ele carrega
é culpa de toda essa gente.

objeto que veio do mar

deixa,
o coração pede pra ser livre,
as ancoras estão lá, no cais.

era final de verão,
o mar invoca o respiro, alinha.
eu vi as ancoras envoltas em musgo,
como sereias dançantes envoltas num véu!
a água ficava turva por conta da maré,
eu quase as ouvi cantar, um grito.
mergulhei de cabeça,
não vi mais cais...

o coração ficou cansado,
não gostava de estar embaixo d'agua,
se sufocou...

quando voltei já era outono.
o mar invadia o gramado,
regando toda terra ressacada.
sem sangue nas raízes, nas veias,
apenas sal e saudade.

ampulheta

o acaso está no ócio
e só é gasto de
repente, se
ele vaga
o pó do
posso
osso
nosso
tempo
que tempo
é esse que só
passa quando a
gente está sem tempo

a explosão de toda Alma e Coragem Contidos

todas as coisas pensadas num banho
um mundo de angústias em um pedaço de sabão
decidir não entrar debaixo do chuveiro e se lavar
decidir que é
o fim
e trocar toda a espuma
por uma cama de nuvens.

sismos

a terra toda treme,
e meio ao caos eles vibram,
afinal, quando se está parado
tal reação é involuntária,
e ver ruir um mundo
esse que já não pertence,
faz brilhar os olhos dos inertes.

consistências

de perto são quatro, 
de longe são mil. 
estão todas escondidas 
atrás da mesma fumaça, 
uma lira, 
um sonho, 
que se força a pisar no chão 
pra dizer venha, 
mas o mundo exaustor 
diz não.

Sobre as Fotos

Você,
Essa reprodução incessante...
Sublime
Você,
Sublime,
Sob mim
Você
Presa nesse mundo que é...
Você
Presa nessa reprodução incessante
De mundo que é
Sublime
Sublime
Vou chamar de super exposto
O branco do seu rosto,
O dente e o gosto
Assim, pra todo mundo ver
Quem é você,
Por mim
Quero ver o branco do olho
Serrilhando os pretos, cílios
Sublime
Essa reprodução incessante
Antes que você e o mundo seja
Sobre mim

tchau e bença

eu só gosto dele
porque ele gosta de mim
eu só gosto dele...
porque ele gosta de mim

se eu não interesso mais,
vai tarde...
e se só não me quer mais,
fica a amizade

pensa que é malandro
me enrola e quer vantagem
mas a vida tá pra frente
tem estrada
tem mar
tem um mundo lá
tá lá,
tá lá...
não tá na gente

e se não deu
a bença
e se não deu
é tchau e bença
e se não deu,
não deu...
e se não deu...
dou eu

se eu não interesso mais,
vai tarde
e se só não me quer mais,
fica a amizade

porque eu só fiquei com você
porque você gosta de mim
e eu só gosto de você...
quando você gosta de mim
eu só quero você
se for você só pra mim
eu só quero você
se for assim...

doce de maracujá

fruta da paixão
é o gosto do doce de maracujá
amarela
amar ela
amarela
amar ela
doce
que doce
que doce
que doce
que mata
amar ela
mata
amar ela
mata
amar ela
mata

sem canhenhos

numa mistura de areia e pixels,
peneiro uma sensação
de que talvez o que foi hoje de manhã
não dure mais do que uma noite de sono.
numa tentativa frustrada: detalhar
essas imagens tão efêmeras através da escrita.
o que foi hoje de manhã vira um conto,
que na reprodução se materializa de outra forma!
sem memória, as lembranças ficam perdidas...

silêncio

num canto sem palavras
na alegria do sossego
silêncio é o meu emprego

invento uma alergia
pra contaminar o dia
e dormir com o seu chamego

uma vírgula

e quem é que vai dizer qual é o meu ", mas"?

desconcertos

a vida ta pra frente:
tem montanha
tem estrada
tem mar
ta lá,
não ta na gente.
se fodeu, fodeu
tchau e 
bença.

alergia

assuma o tempo em si mesmo
senão esse tempo se acaba
o tempo perdido na lacuna do outro
é como o buraco que vira uma vala

lembrar das imagens que vejo
já não me vale mais nada
saber quem produz meu desejo
a tempo de virar a página

moça

me vê um desses 'que tá em falta'?

têredêtumdê

o rapaz me encantou
quando nem era esperado
cantando aquela música
com um jeitinho todo engajado
pai,
xonei.

qualquer matéria reduzida ao pó

Os rapazes discutiam sobre a noite. Ela, desgostosa, se sentou na sarjeta.
Aquele lugar, em instantes, se tornou um ambiente assustador.
Um furacão de pessoas de todos os cantos. Passou a observar, deixar.
Olhar pra ela era como ter a certeza de que de alguma forma carrega uma tristeza no olhar.
Uma angústia que talvez ela nunca vai chegar a saber exatamente o que é.
Saber que essa coisa, que seja, está podre de alguma maneira, e é. Poeira.
Dessas que se acumulam pelos cantos, que nem o aspirador de pó limpa.
Queria de alguma forma socorre-la, mas ele tem o péssimo hábito de fazer escolhas ruins.
Lamentam juntos: a ponte quebrada na estrada, o gato atropelado, a árvore corroída.
A garrafa de cerveja quebrada, a dor nos pés, a música ruim, todo o lixo pelo chão...
Todo o lixo pelo chão, todo o lixo pelo chão.

*

eu poderia te falar as palavras mais lindas do mundo,
mas de todas elas eu escolhi uma:
volta.

sertão

ser,
tudo aquilo que supõe-se existir.
sobre ser nada ainda que a contradição palpite;
para nada ser não se pode querer,
o simples ato de ser anula o nada,
nada ou tudo aquilo que não existe, 
que sequer pode ser aquilo. 
não-espaço 
não-ser 
nada.

poeira leve

qualquer noite inigualável
não pôde ser compartilhada,
durou o tempo que teve,
fez todo o bem que me deve
e virou poeira, me leve.
mas ainda restou uma dívida:
aquele que amei de verdade,
foi quem ensinou a não amar.
e na vontade...
ficar junto...
ele só é se só.

selar

sabe o que eu gosto no lápis de cor?
é que ele pode durar pra sempre
ele pode ser lápis, de cór, cor, sempre.

três e três

três pessoas carregando uma pedra cada uma
talvez uma pedra seja mais leve que a outra,
talvez uma pessoa seja mais preguiçosa que a outra.

três pessoas carregam uma pedra juntas:
sucesso.

primeiras considerações sobre o arrebatar

Se eu partir do pressuposto então de que eu, ser pensante, vejo e percebo o mundo de forma tal que outros não percebem, e que até possa ter alguém que veja da mesma forma que eu, mas considerando o próprio ato de ver algo único, que vem de dentro pra fora, o ver além do olhar e enxergar; ver pra dentro, numa lógica abstrata e fragmentada, desatrelando o ver de qualquer signo e imagem pré-datado, transformar o ato de ver em algo mais físico, o ver como algo que constrói e destrói uma imagem pura de significação, espaço e tempo.
Posso passar, então, uma hora a olhar para um corrimão de uma escada, piscar, e não saber qual a sua cor, seu material e seu formato. 
UMA HORA 
olhar corrimão de escada piscar
Essa imagem que se cria entre a imagem dada e meus olhos, uma película transparente de reações e sinapses que ganham movimento através das vibrações do som, este, portanto, capaz de fazer imergir e submergir, para então subverter a sensação do espaço/tempo, o som como o vento que sopra, a imagem como a brisa que sinto mesmo sem ver.
o ver de dentro pra fora capaz de anular o peso da gravidade e toda a cinética.
o ato de ver como arrebatador, e por arrebatador entenda-se, ir subitamente a um espaço mental desconhecido e voltar, sem memória lógica ou óbvia do que possa ter acontecido, podendo ou não ser ligado a realidade, mas provedor de sensações incapazes de definição.
Passo uma hora em um espaço indeterminável, impassível de qualquer materialização ou descrição proveniente de uma palavra; tempo este que poderia muito bem ser dez segundos - o ponto é que o tempo é determinado pelo entorno, portanto, relativo, e no que chamo de arrebatamento a noção de tempo pode ser alongada ou diminuída, de acordo com a experiência e capacidade de abstração do eu -;

âncoras

ali, numa escuridão infinita,
seria quase uma cegueira se não fosse pelo horizonte tão nítido.
eles seguram a minha mão, mas não sei quem são, aonde pisam.
a cada passo o horizonte caminha junto.
dá pra chegar? existe um lugar?
cada braço me leva pra um lado - tudo ao mesmo tempo,
o corpo não se desmembra.
minha vontade de ir pra cima ancorada em diferentes portos, paradas.
gravidade, você me coloca pra baixo.
o mar de vozes aflitas, confusas, tempestuosas, não sei se navego ou se me afogo.
inércia.
a mente vai aonde o corpo leva.
a densidade da água me eleva.
é tudo tão escuro que não existe lembrança, saudade, imagem.
fica só uma vontade latente, pulsando, se desmembrando ferozmente.
pediram pra ela ir embora e ela foi sem deixar a calmaria.
mas o agir sem a vontade voa e se afoga.
são portos perdidos no breu de um nada,
os barcos navegam sem vento, sem água.
ainda o horizonte tão nítido e se distanciando...
acho que estou cega aqui, imaginando uma linha reta qualquer.

gelada

eu vou
morrer
afogada
numa
película
d'água

eu vou 
morrer 
afogada
numa
película 
d'água

não sei
nadar
não ser
nada
não ser
nadar
não sei
nada

tá pego

ô nego
o aconchego gostoso no peito
que chega perto trazendo o seu cheiro
que vontade de te encontrar...

ô nego
mas que gostoso esse silêncio pego
canta baixinho pra espantar os nervos
e a gritaria nesse seu olhar...


num mar cheio de gente...
o barulho atormenta a mente.
colando o corpo a gente se entende,
esse calor que quase faz voar...

deixa estar

num dia de descanso escolho um canto, canto outro.
há sempre uma dúvida primordial ao conhecer pessoas:
talvez seja alguém; talvez seja um qualquer; talvez se...
no entanto, essas três opções implicam uma condição no ser.
e enquanto ser, eu prefiro só estar.

.

de repente me veio à realidade:
as pessoas convivem nas palavras,
mas eu me comunico nos silêncios.

por onde vamos

queria entender a música como entendo os poemas.

tudo que vem de dentro, fora.
o fluxo de cima introduzindo o mais baixo.
os lados, as quebras, as linhas, as frases,
os conjuntos ritmando todo o espaço.
qualquer palavra, nenhum acaso.

tudo que vem de fora invoca por dentro.
se fazer ser sentido.
se fazer ser sem ter sido.

o poema é como a brisa que sinto e não vejo.
já a música assopra e vibra o vento,
decide pra onde é que ele vai.

Eu tô de Bem

Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. 
Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem. 
Tô aproveitando tudo de bom que essa nossa vida tem. 
Tô me dedicando de verdade pra agradar um outro alguém. 
Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. 
Ultimamente eu só tô querendo ver o ‘bom’ que todo mundo tem. 
Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem? 
Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém. 
Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. 
Tô feliz, to despreocupado, com a vida eu to de bem.

Andaluz

um gosto de sal
saudade...
um pouco de sal
saudade...

passa o tempo
e eu me demoro,
me aguarde...

a brisa do vento,
as cores que exploro
na tarde...

saudade
que alarde
verdade
verdade
ver...
que alguém apagou a luz
foi embora, foi agora.
não vou pedir pra voltar,
se solte...
se solte...

esse destempo,
uma bomba de cloro
retarde

esse consentimento
enquanto eu não choro,
covarde

o sol arde...
arde...
arde...
arde...

iconoclasta

a definição por definição implica num ato terminal, sem saída.
e consumimos a situação porque comunicamos.
se comunicar é se fazer entender pelo outro,
e pra me fazer entender é preciso formalizar um discurso
que implica numa construção lógica de imagens,
como seria o pensamento racional se fossemos cegos?
incapazes de saber o que é imagem,
viver apenas com o som, a sensação, a vibração.
perceber que vive,  sentir a movimentação somente porque ela pulsa.
mas com meus olhos eu não vejo a energia que faz-se movimentar.
só sei que existe.
o sofá velho.
os documentos de antepassados.
o papel de chiclete na rua.
a árvore.
eu ouço as minhas veias.
eu sinto os lábios quentes.
mas se vejo, só, está morto.

menino da madrugada

conheci um menino na madrugada
o menino da madrugada
o menino da madrugada

virou uma duas três
virou freguês
tá querendo dormir lá em casa
e agora não quer mais nada

eu pedi uma cachaça
ele trouxe dez
tá pagando uma de burguês
ele tá é perdendo a vez

virou uma duas três
bebeu demais
e tá querendo dormir lá em casa
desse jeito ele me arrasa

menino entenda
é que moro com meus pais (assim dói demais)
e eu não sou capaz...
de quase nada

menino não tenta
que eu não aguento mais dar pra trás (assim dói demais)
sou arretada mas
contigo não quero nada

disse uma duas três
dancei, rodei
tu virou o freguês
dessa batucada

ô menino,
menino da madrugada
tu virou o freguês
mas eu não tenho nada

caroço de maracujá

ababá, abacá, abadá, abalá, abaná, abará, abatirá, abdalá, acá, acaçá, açalá, acaná, açaná, acará, acaraparaguá, acaraparaná, acaraparauá, acarapindá, acauá, acoçapatá, acolá, aconá, acroá, açubá, adixá, adjá, afonjá, afurá, agá, agorá, aguará, aguarapondá, aguaraquiá, aguarauçá, aiaçá, aiaiá, aiapuá, aiará, aiatolá, aicá, aicaná, aimará, aiocá, airá, aitá, aiuá, aiucá, aiuçá, ajajá, ajapá, ajará, ajucará, ajupá, alá, alabá, alalá, alaruá, albará, aliá, almatrá, alojá, alrucabá, aluá, alufá, alujá, alvacá, alvará, amalá, amaná, amanarauá, amapá, amaribá, amaripá, ambuá, aná, anacá, anaiá, anajá, ananá, anauerá, andá, andirá, anduiá, angá, angorá, anhá, anhangá, anibá, anujá, apá, apaocá, apapá, apecuitá, apereá, apiacá, apuá, ará, araçá, araciuirá, araguaguá, araguirá, aramá, aramaçá, aramatá, aramatiá, arapapá, arapuá, arapuçá, arará, ararapá, araribá, araripirá, araruá, aratá, arataná, aratauá, arauá, arauaná, araxá, araxixá, ariá, ariauá, aricá, aricuiá, arimbá, ariná, aripuaná, arocá, arracachá, arruá, aruá, aruaná, arucá, arujá, arumá, arumaçá, arumará, arurá, atá, ataná, atangará, atobá, atuá, aturá, aturiá, auçá, avará, axá, axuá, azalá, babá, babalorixá, babaloxá, bacaiá, bacará, bacopá, bacorá, bacubixá, bacumixá, bacupixá, bafafá, baguá, baiá, baiburuá, baitatá, bambá, bambiá, banauá, bantabá, baobá, bará, barajá, bararuá, barbaquá, barbará, batá, batará, batauá, batiputá, bauá, baxá, baxiará, beijupirá, beiupirá, bendiapá, beribá, berivá, biatatá, bichará, biguá, bijupirá, biribá, bislamá, bitatá, biurá, blablablá, boá, bocuiabá, boicaá, boicorá, boitatá, borá, bortalá, bracaiá, bracajá, bruaá, buçá, bundá, butiá, cá, caá, caaguá, caaingá, caapená, caapiá, caatiguá, cabodá, cabundá, cacá, cacará, cacaracá, caçuá, cafubá, caiapiá, caicurá, caiguá, caimbá, caiová, cajá, calumbá, camaá, camaiurá, camanduá, camanguá, camará, cambá, cambará, cambiuá, camboatá, cambucá, camuá, canará, candimbá, candiubá, cangá, cangambá, cangangoá, canganguá, cangatá, cangoá, canguá, canicurá, canxuá, canzá, canzoá, canzuá, capaná, capanauá, capiá, capinauá, cará, caracá, caracará, caracaxá, carafá, caraguatá, carajá, caraminguá, caraná, carandá, carapiá, carapirá, carapuá, carará, cararapirá, carauá, caravançará, carcará, cariná, caroá, caruá, caruatá, casbá, catacá, cataguá, catambá, catatuá, catiguá, catingá, catuá, cauaiá, cauaná, cavodá, caxangá, caxinauá, ceará, celá, chá, chaiá, chajá, chauá, chevá, chiqueirá, chiripá, chitá, chuá, ciá, coaraciuirá, coaxixá, colabá, congá, copiá, corá, corimá, coroá, coroaracaá, coroatá, cororoá, corumbá, cotecá, covoá, cracaxá, crachá, craguatá, crauá, crauatá, crauçá, crejuá, crixaná, crizaná, croá, croatá, cruá, crubixá, cuatá, cucutiribá, cumaná, cumandá, cumandatiá, cumbá, curadá, curatá, curauá, curibatá, curimatá, curimbatá, currumbá, curuá, curuatá, curubixá, curumatá, curumbatá, curumiá, curupiá, cururuá, cutaguá, cuteguá, cutitiribá, cuxá, dacolá, dadá, damanivá, dambirá, darameçalá, decá, detuaná, diá, djacutá, druvá, dubá, dulcadá, dulijá, dzubucuá, egbá, eirá, ejá, eledá, embuá, eramá, euá, eubá, fá, falbalá, falvalá, famaliá, felá, filá, flá, flogá, fuá, fubá, fulá, funaná, funfungagá, fungagá, fungangá, gagá, gambá, ganzá, ganzuá, gicá, goiá, goianá, goitacá, gongá, granganzá, grangazá, grapirá, grauçá, gravá, gravatá, grená, grumatá, grumixá, guaçubirá, guaiá, guaiapá, guaicá, guaitacá, guajá, guajará, guaná, guananá, guará, guaraguá, guaraná, guarapirá, guaruçá, guatapará, guaxiná, guenizá, guianá, guiará, guirá, guirapereá, guiraquereá, guriçá, guzerá, hagadá, hauçá, haussá, hiapuá, iá, iabá, iacaiacá, iaiá, ialorixá, iapuçá, iarumá, iauanauá, ibiranhirá, icá, içá, iemanjá, ieramá, ifá, igapará, igupá, ijexá, imanjá, inaiá, inajá, inambucuá, inambuquiá, inamucuá, inamuquiá, indaiá, ingá, inhambucuá, inhambuquiá, iorojá, iorubá, ipecuacamirá, ipecupará, ipecutauá, irá, irapuá, irapurá, iratauá, iriribá, isbá, itá, itacurubá, itapeuá, itapuá, itauá, ituá, iuá, iuçá, iurará, , jabá, jabutá, jabutapitá, jacá, jacamincá, jacapá, jacarandá, jacaratiá, jacaregoá, jacariá, jacundá, jacupará, jaguaraçá, jaguareçá, jaguariçá, jaguaruçá, jaguriçá, jamundá, jandiá, janitá, japá, japuçá, japurá, japuruxitá, jará, jaracatiá, jaraguá, jareuá, jarivá, jarumá, jaticá, jatobá, jauá, jejá, jeová, jequiá, jequitá, jequitibá, jeribá, jerivá, jinriquixá, jipijapá, juá, jucá, juguriçá, jundiá, jupará, jupiá, jupindá, juquiá, jurará, jurupará, juruparipindá, jururá, juvá,, labá, landuá, latipá, lembá, ligá, lilá, linguará,, macaá, maçacá, maçacará, macaiá, macajá, maçambará, macaná, maçará, macerá, machacá, macucauá, mafuá, mafurá, magbá, maiá, mainá, mairá, maitatá, malcassá, malembá, mamaianá, mamangá, maná, manacá, manapuçá, mandapuçá, mandarová, mandaruvá, mandicumbá, mandorová, mandruvá, manduruvá, manduvá, mangagá, mangangá, mangará, manguá, manguzá, maniçauá, manicujá, manipuçá, manquiçapá, manzuá, mapará, maperoá, mapuá, mapurá, maquiçapá, mará, marabá, maracá, maracajá, maracaná, maracaxá, maraguá, marajá, marandová, marapá, marauá, marauaná, maricá, marimbá, maringá, marruá, maruá, marubá, marupá, masacará, massorá, matamatá, matará, matupá, mbacaiá, mbaiá, mbatará, membitarará, menorá, mereuá, meruquiá, meruquiá, meuá, michná, miriquiná, miuá, mocajá, momaná, mucajá, mucruará, mucuná, mucunzá, mucuracaá, mugunzá, muiá, muitá, mulembá, mungunzá, munguzá, munzuá, muriá, mutá, najá, nambucuá, nambuquiá, naucuá, nhá, nhacundá, nhambucuá, nhambuquiá, nhandiá, nhanhá, nugá, obá, obatalá, ocá, ocongá, odiá, odoiá, oiá, ojá, olá, omalá, onfuá, oriá, orixá, orixalá, otá, oxalá, pá, pacaiá, pacajá, pacapiá, pacará, pacová, padixá, pagará, paiá, paiaguá, paiaiá, paiurá, pajurá, palpumá, pamoá, panamá, panapaná, panará, panzuá, papá, papaná, pará, paraguá, parajá, paraná, parapará, paraturá, parauá, pariá, paricá, paritá, parruá, patauá, patiguá, patoá, patorá, patuá, pavoá, paxá, paxicá, pequiá, pereiorá, periná, piá, piaçá, piçamá, picuá, piná, pindá, pirá, pirá, piracá, piracaá, piracará, pirajá, piramutá, pirapucá, piriguá, piriquitá, piririguá, piruá, pitá, pitanguá, pitauá, pituá, pixuá, plá, placá, poá, poiá, poiixá, poleá, poracá, praguá, prajá, preá, procá, provará, pruá, puçá, pujacá, pujixá, puruborá, putauá, puxá, quaiapá, quiçá, quipá, quiriripitá, quiruá, quitchibá, quixibá, quixipá, rajá, ratafiá, resedá, riquixá, rubixá, ruzagá, sá, saá, sabá, sabiá, sabujá, sabujá, saburá, sacá, sacuritá, sadrá, saguá, saguaritá, saitauá, saivá, salá, salubá, samanguaiá, sambá, samburá, samorá, saná, sanamaicá, sanhá, sanhoá, sanumá, sapá, sapará, sapicuá, sapinhanguá, sapuá, saputá, sará, saracá, saraquá, sarará, sarassará, saravá, sarobá, sauá, sauiá, saurá, sesseluá, siá, simanguaiá, simongoiá, sinhá, sirigoiá, sofá, soguá, soguagrá, soguaguá, sondá, souá, sucará, suiá, suiná, suindá, suiruá, surucuá, suruiá, sururucujá, , , tabuiaiá, tabujajá, tacacá, tacauá, tachá, tacuá, tacuná, tafetá, tafiá, taguá, taiá, taiuiá, tajá, tajujá, tajupá, tajurá, tamanduá, tamatá, tamatiá, tambá, tambatajá, tambetá, tambuatá, tamburipará, tamburupará, tamuatá, tamuripará, tananá, tangará, tangaracá, tangurupará, tapacoá, tapacuá, tapacurá, taperá, taperebá, tapiá, tapiçuá, tapireçá, tapucaiá, taquirá, taracaiá, taracuá, taramá, tarará, tarubá, tarumá, tatá, tauá, tavuá, tecebá, teçubá, tembetá, tendepá, teringoá, teueiá, ticopá, tijupá, tiupá, tocainará, topitá, torá, tracajá, tracuá, traguá, tralalá, trapiá, trucá, tuá, tuaiá, tubaiaiá, tucujá, tuindá, tundá, tungurupará, tupá, tupiná, tupinambá, tupixá, turá, tutiribá, tuturubá, tuxá, uacá, uaçá, uacapará, uacarauá, uaconá, uaiá, uaiapuçá, uaicá, uainumá, uaitá, uaitacá, uaiumará, uajará, uapuçá, uariá, uaruurá, uauá, uaurá, uaxuá, ubá, ubá, ubacaiá, ubiraquá, uçá, ucassiá, uirá, uiratatá, uiratauá, uiriná, ulemá, uliiá, urapará, uruá, urubá, urubucaá, urupá, uxicuruá, vacuá, vaicá, vaixá, vaixiá, vanaquiá, vaplegá, vatapá, vaurá, vavavá, vindecaá, virá, vorá, xá, xacriabá, xaiá, xainxá, xajá, xambioá, xará, xará, xariá, xauá, xauanauá, xauianá, xaxará, xetá, xibará, xicriabá, xixá, xuá, xuá, ya...

sexta é dia de oxalá

ouvi falar, ouvi falar,
(ouvi falar, ouvi falar)

de um carneiro zombeteiro,
dum exu da coxa frouxa,
e no espero um desespero,
defumou a coisa toda,
pra lá.

oxalá, oxalá,
(oxalá, oxalá)

se o me aguarde sempre arde,
mordo o aguente com o dente,
de saudade um amor morto
de tanto ficar doente
entortou.

não chora lá, não chora ô,
não chora lá, não chora ô,

vai se embora com esse corpo,
que por mim jamais chorou

não chora lá, não chora ô,
não chora lá, não chora ô,

vai se embora, vai se logo,
vai num tombo, vai de novo,
vai se embora com esse corpo,
que quando vejo... já voltou

ouvi falar, não chora ô,
oxalá, não chora ô,
ouvi falar, não chora ô,
oxalá, não chora ô

saudade fez o samba
saudade fez o samba
saudade fez o samba
e se acabou.

se vertigem

sem preguiça,
se levanta
se espreguiça
sem garganta
senta um grito:
centenas de bolinhas apareceram na minha frente!

ontem

sempre quando ele dormia
eu levantava e escrevia
um poema, um verso;
poesia
e escondia
no seu universo
de mundos em livros misturados numa estante.
qualquer poesia,
instante.

que é pra não ser vista;
que é pra ser esquecida;
que é pra enterrar você
num mar de palavras afiadas.

desajeitada

des implica na idéia de afastamento, separação
a reforça a falta de alguma coisa, uma negação
jeito é a capacidade de compor, arranjar, ser

um sujeito sem jeito, desajeitado.
ajeita uma maneira de se enquadrar, desajeitada.

o ver torto

perdi esse olhar reto que vai e não volta.
agora minha visão abraça e enrosca,
e se solta, toda torta,
se der, volta.
uma visão artista,
quando volta esculpi milhões de pensamentos,
aumenta e reduz as porções e os momentos,
espalha, resguarda, observa: sentimentos.
de algum jeito se ajeita.
olho no espelho,
sou outro mundo.

ê

sem saber
o que escrever;
abril é um mês
de poucas vogais.

experimentações

é curiosa a consciência da memória mais remota.
sei exatamente qual é a lembrança mais antiga armazenada na minha cabeça.
tem gente que sequer parou pra pensar sobre isso na vida.

uma conversa de banheiro:

- Não aguento mais. Cada dia meu chefe me pede uma coisa nova, amiga, acho que vou surtar!
- Nossa sei bem como é, não dá nem pra se programar, né? No meu último job eu até fazia terapia pela internet...
- Mas você parou?
- Não, arranjei um emprego surreal! Eu faço a mesma coisa todo o dia, é incrivel! É meio... como é que se diz mesmo...?
- Alternativo?
- Rotineiro!

questionamento sobre a fala

e a pergunta que não quer calar:
será que alguma hora a dramatização acaba?

seja a pizzaria seja uma grande empresa
a cada telefonema faz uma voz diferente.
e se não fala é por estar ocupada com o falo.

e você?

todo homem é um abismo
e dá até tontura só de se olhar por dentro.
agora imagina isso em dois.
agora imagina isso em todo o mundo...
agora deu vontade.
saudade...
é mais fácil cair no abismo se está sozinho.

estados imaginários

nos microtempos de ócio entre o fazer de duas ações
invento uma hora ou até três que duram alguns milésimos.
estou junto,
estou quente,
estou completa.
e essa euforia toda não poderia durar mais do que...
alguns milésimos,
não se frustra:
sozinha.
porque se eu de fato estivesse junto,
seria um hora ou até três que duram alguns anos,
supondo,
tentando,
amando,
o conjunto fica se comparando...
estar com e junto frustra.
já nos microtempos de ócio limita-se todo o tempo gerúndio.

escreveré

receber uma luz.
um conjunto de palavras que faz mais sentido do que uma palavra só.
versos conjuntos em estrofes que acendem alma.
que quando no limite entre o abstrato e o real,
quando tentam ser escritos na memória coletiva
vão embora, desaparecem, se desmaterializam,
e fica só aquele sentimento de que por um segundo foi-se completo.

leré

ser racional;
é finalmente perceber o poder ser suicida.

luz ou não

era noite, estava bem escuro,
o mais escuro que o céu de São Paulo consegue estar.
uma luz ao fundo se movia,
como um dead pixel numa tv de plasma ligada em um canal preto.
ele disse que isso acontecia todo dia...
"é só um avião bem longe"

canto do morro

aos pés da cidade...
morro
de baixo da laje...
morro
a casa sem forro...
morro
acaba com o fôlego...
morro
um dia em um sopro...
morro

mas não adianta nem pedir socorro...
morro.
a gente nasceu pra levar esporro...
morro.

é por isso que eu sambo no
morro
é por isso que eu sobrevivo
morro
é por isso que eu canto,
canto,
canto,
canto,
e é num canto do morro....
morro,
morro,
morro.

paredes

PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDE                                                        PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE           PAREDE           PAREDE           PAREDE
PAREDE                                                        PAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE
PAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDEPAREDE

parede;;;;;;;;;;parede;           ;parede;;;;;;;;;;parede        

é uma palavra horizontal demais pra definir que é alto.
mas concreta o suficiente pra causar claustrofobia.

nem eu sei

são meio dia e meia.
dormi fora, cheguei cedo.
tomei um café, um leite, um suco.
a casa está vazia, então começo o dia.
trabalhar... mas é segunda-feira, não primeira
meu pai chega em casa, abre a porta e cumprimenta:
- O que você acha de nós almoçarmos só um lanchinho?
- Não sei, pai, eu simplesmente não estou com a mínima fome...
- Ah, não tá com fome... e daí? Mas tem que comer, né? Ou não?

conviva

as vezes você me encontra por acaso
me cumprimenta com um beijo
paga as contas, meu cortejo
se despede com um abraço

cogito o por que desse descaso
penso tanto que bocejo
vira as costas, passos largos, sem desejo
e pelo caminho deixa um traço

quando se dá conta do raso
ressurge num lampejo
sente o frio do azulejo
já não domina mais o espaço

calcula a situação, a deriva
sou muito compreensiva
a cabeça imersa na profundidade

quase sem perspectiva
nessa história corrosiva
sente saudade

são brancas

essas mulheres vão e voltam
usam meu corpo como suporte qualquer
a necessidade de exprimir ânsias.
são sempre melancolias,
historias frias, agonias...
quantas maravilhas.
uma rosa vira prosa,
um homem disperso vira verso.
algumas catástrofes, muitas estrofes.
desocupar, recuar, atuar e equalizar.
essas rimas pobres iludem
um tolo a curar a sofreguidão.

guerras frias

uma vez que
você se
resolve
na sua
cabeça,
resolvido
está
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.



click

tentar novas flores


"Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.
Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.
Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas."


De alguma forma enfrentar a situação,
Mesmo sabendo que o hábito da torneira é pingar.


A má compreensão de todas as respostas
As longas curvas dessa estrada crua
Todas as paixões amantes narcisistas
Em um disparo conseguem amparo


Quem fez do silêncio a saudades,
Não fez da saudades o encontro.
Quem fez do encontro o momento,
Não teve um momento de silêncio.


Toda essa altura, essa serra, essa espera...
Debaixo das nuvens cinzas o silencio se enterra,
De cima a distancia implora por uma primavera
Espera que volte e revolte.


Enfrentar a situação é encontrar num dilúvio o mar,
Mas o hábito da torneira ainda continua o mesmo.

tirania moderna

o ato de ser autor lhe concede o maior poder de todos
manda e desmanda nos discursos - estilos - sutilezas divinas
fala sobre quem o que quiser sem ter de se importar com o dia
maior regalia que já sonhara ter na vida
fazer nascer ou fazer murchar
delatar toda e qualquer tirania
em um mero conjunto de letras
com uma unica punição:
branco.

Dócil

ela quebrou uma imagem.
uma santa, engessada.
o chão refletia a luz dos postes, chovia.
aquele branco se desfez numa massa
entre as pedrinhas brilhantes da calçada.
a moça, ajoelhada, perturbada.
segurou a coroa de Maria e caiu, espatifada.
veio um homem correndo,
pegou um pedaço de gesso e desenhou seu corpo no chão
"Mulher vadia, acreditava"
ele carregou seu corpo e entrou num galpão
estendeu o corpo em cima duma mesa.
a platéia aplaudia e vibrava.
"Ainda não acabou a peça."

tempos áridos.

a respiração
no movimento,
os olhos turvos,
uma leve tontura.
aguardo as lágrimas
mas elas não saem,
desistiram, secaram.
como um espirro que...
passou
o verão foi embora.
as saudades parecem eternas,
quanto mais velhos, mais distantes
e quanto mais velha, maior é a vontade de ficar.
não sei se egoísta, se dramática, mas algo aqui dentro me impede de ir com eles.
é um sopro na boca do diafragma que eu tento disfarçar com um cigarro atrás do outro.
se ao menos eles se lembrassem de mim, soubessem da falta que me fazem, de como eu preciso deles...
neste momento devo estar embaixo de algum desses papéis, junto com as contas do banco velhas e telegramas amassados.
procuro uma forma de retomar a caminhada.
desisto, seco.

mais um desses desfocados

Sentiu vontade de voltar.
Voltou, ela deixou ele entrar.
Amou.
Dia seguinte, acordou sem saudades.
Partiu.
Quem sabe ano que vem ele volte.
Se voltar ela abre a porta de novo.
São dessas coisas que não crescem ou evoluem,
simplesmente sobrevivem as desilusões.
Mas no fundo, amam.
Tudo bem o amor existir sem paixão, sem desejo.
É carinho e eles são desamparados.
Enlouquecem.
São negros.
Entendem-se,
Estupram-se.
Frio.
As vezes fica tão gelado.
Será que o sangue corre nessa frieza? Será que pensa?
Reajusta o parafuso na cabeça mas o que quebrou foi a porca.
Ele tira mais uma foto.
Ela congela seu canto e encanto
enquanto o flash paralisa o momento,
o movimento em desencanto.
O instante, click...
"Dentro dos meus braços os abraços hão de ser milhões de abraços,
apertado assim,
colado assim,
calado assim."
Pára.
Deixa cantar.
Quando os olhos voltarem a ver poesia ela vai parar.
Mas os olhos não voltam, eles não conseguem mais olhar pra dentro.

iniciação ao drama

Escancarou na minha cara: 
este não presta, nem esse e nenhum dos outros três. 
Depois me contou sobre meu dom oculto. 
Achei mentira. O descobri.
Se fez de fácil, jogou quatro histórias no lixo. 
Se não fosse, não seria pós moderno. 
O clássico acarreta uma estrutura limiar, portanto, ama.
Mas veja bem:
nenhum amor transgride, 
qualquer amor subverte 
todo amor vende.

desfoque graduado

um deserto de sal. um reflexo. que implica em não vida. 
ele ama, ele é artísta, veicula a fotografia. 
ela vai pra sempre tentar ser poetisa.
recalcula e recompõe. 
ele é quem rouba a cor e imprime em mil posters. 
ela quer ser cantora popular, viver um parto a cada dia. 
ESTRANGULAR.
se imersos numa banheira cheia d'agua, se sufocam. 
Temos o dom - usemos, pós limiar. 
o canto é o grito e a foto o conflito, não podem amar.
no final disto, 
chega um de canto e sussurra para o outro: 
"Faz essa menina parar de brisar".


Palavras não imploram para ser escritas, 
elas se fazem existir numa construção complexa e ordinária, 
quem cria a coreografia é o que copia.
Hoje é um dia inspirado, de alegria. 
Conseguiu se concluir em poesia. 
Despede.

me furta

ele disse que era pra eu apagar todas as luzes, e me deu um copo de suco de frutas artificial de cor radioativa.
quando apaguei tudo, vi o suco brilhando no escuro e com sua luminescência me maquiei num espelho digital, que na verdade, espelhava horizontalmente a imagem que seria um dia a do meu reflexo, e curiosamente, ao mesmo tempo, lançava uma luz forte e azul num canto escuro daquela sala.
eu liguei o ventilador bem, bem forte até meu vestido colorido se mexer esquizofrenicamente, e quando me virei, ele tirou uma foto.
ele tirou uma foto.
ele tirou uma foto em preto e branco,
portanto, de nada adiantaria aquela fotografia como uma lembrança, de um momento tão colorido, diminuido...
eu em preto e branco.
é como se no fundo ele fosse só um ladrão de imagens que capturou um momento qualquer pra colorir da forma que adequar e quantas vezes quiser, hoje ou depois de alguns amanhãs.
depois de toda a minha revolta eu percebi que na verdade, tanto faz, aquele momento na verdade já foi.
pra ele foi um instante em preto e branco,
pra mim, foi um instante barulhento
e de repente uma porta batendo.

instante

flagrada num movimento constante.
estica, amassa e embaça,
qualquer ser
instante
.

ela não é obra

andré a lê em seus livros
augusto a veste como princesa
miguel a enquadra em seus planos
maurício insiste em descrevê-la em seus textos
mauro a canta nos mais belos poemas
josé a hipnotiza com as mais sublimes melodias
mas ela não é obra do acaso.

versos palavras poses e acordes,
no fundo, tudo o que ela quer:
jamais ser retratada.


Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir