não me perde

guardei um daqueles bilhetes improvisados no meio de lembranças que não são minhas
foi só uma tentativa de fazer você pensar em mim antes de lembrar dela
dobrado entre cheiros de pele, calor e semente,
com palavras que eu já nem me lembro,
misturadas com algumas sensações estranhas
que talvez fossem respostas pra mil daquelas perguntas caladas

mistérios

os que já se envolveram em minha trajetória bem sabem que sofro por não conseguir decodificar toda minha aura de sentidos em simples palavras ou imagens. me veio a razão de que talvez isso também ocorra em todos meus casos, pra ser sincera, diria até em todas as relações sociais. notei então que sofro de uma necessidade primitiva, quase extinta, de me ver pelos olhos do outro, no entanto de forma a entender exatamente como é que o outro vê. logo, não é simplesmente saber o que pensam de mim, e sim entender como a formulação de pensamentos de meu próximo funciona para conseguir então selecionar a parte do meu ego que deve ser exibida pra este tipo específico de pensador.
vou exemplificar para não parecer tão hermético:
considerando o mundo dividido entre pessoas com a visão normal e pessoas com a visão "danificada" - os famosos daltônicos - quem é que está errado ao dizer que vê a cor vermelha?
afinal, vermelho não é somente um signo atrelado a um espectro de luz que reflete vermelho? se o daltônico vê outro vermelho que não o meu, não quer dizer que ele não esteja vendo vermelho, certo? afinal, para ele, vermelho é simplesmente aquela determinada porção, independente da cor real que aquilo tenha.

aonde eu quero chegar com tudo isso é:
todos vemos vermelho, mas cada cabeça o compreende de uma forma.
e é isso que tem me frustrado, saber que as pessoas se limitaram ao ponto de considerar-me uma louca por cultivar essa singela vontade de compreender esse outro mundo dentro de mim.

em breve virei com mais desenvolturas sobre este tema, enquanto isso deixo fragmentos:

com sírio

ventrar
seandrentar
cemtrar
trentar
ser
trer
enceter
sinverter
centreter
ventreter
converter
e se submeter.

sem sírio

não me adianta nada escrever um post que ninguém vai ler
assim como não me adianta nada eu tentar ter nexo
sou cruel, sou um amor, sou boçal
vim direto de um cinema marginal
para acabar com algumas vidas.
eu estou aqui pra mudar a história do cinema,
não sou ou sequer serei Godard,
tive minha criatividade corrompida por este lugar
mas tenho o mais puro sentimento dentro de mim
e a certeza de que vou sabotar.

enlouqueça

por favor não se esqueça dessa vez por favor desapareça não é só porque você escreve que alguém vai ler, a rede comporta qualquer conjunto de obras que resplandecer na sua cabeça...
mas não significa que alguém vai resplandecer.
por favor não esqueça.
subitamente apareça.
não deixe esse conjunto de obras...
por favor...
.................
não esqueça...
não desapareça...
não posso perder a cabeça...
não deixe esquecer.....
não me deixe desapare...

promessas malucas tão curtas

eles se encontram do nada, de repente
molhados por conta da chuva
vão pra casa dele, que é por algum lugar, não ali perto
compram vinhos no caminho
tiram as blusas no elevador
passam uma tarde inteira juntos praticando algum tipo de amor
criam, discutem, bebem e gritam
até alguém reclamar, no fundo do corredor
se despedem com hum mil roteiros dentro da cabeça
chega um novo dia e fica a falta de alguém que sofra também
manda então uma gratificação via e-mail ou sms
algumas horas depois ele posta um link que se direciona a seguinte música:
"Faz Parte do Meu Show".

exclamação

alegria alegria alegria!
achei o que tanto queria.
completude, infinidade, segurança, sutileza
ah, sublime ser que me rodeia!
abra seu peito e cante qualquer sentimento
que pra ti me faço tudo, toda, a qualquer memória!

muito desprezo

tive que me esconder atrás daquelas mãos grandes que iam e voltavam
a força bruta dentro daquele momento
as palavras fortes que cortavam que nem faca
a dor no coração e a frieza dentro de uma gaiola
as palavras fortes que não simbolizam nada

deschoque

tem gente que ainda acha que falar "merda" ou sobre ela no meio de um restaurante é falta de educação.

arrepios

coração arrepiando completamente arrependido.
aquela noite coloquei uma mentira na mochila e sai correndo rua abaixo; uns três ou quatro caras, afogados em crack tentaram me abordar, mas eu não parava de correr.
entrei no metro e peguei o último trem até a última estação daquela linha.
fiquei com medo, com muito medo, fazia tempo que o sangue não corria com agonia.
as chances de tudo dar errado eram umas, mas as coisas nunca dão realmente errado perante um crime passional.
a cada estação meu coração congelava um tanto, não ia dar tempo, não vai dar tempo e não deu tempo.
saí correndo até a rodoviária e consegui a última passagem no último ônibus.
afinal, eu só podia estar numa comédia romântica barata onde as coisas dão ridiculamente certo. viajei por uma hora, cheguei em uma rodoviária dura, suja, vazia. achei que tinha sido esquecida. chegou ele para me buscar, completamente embriagado, acompanhado de dois rapazes. pelo menos ele conseguiu inovar um pouco na forma, as comédias românticas baratas me dão um certo tipo de náusea.
tive uma noite das mais agradáveis, um dia cheio - de graças. voltamos para São Paulo e tudo voltou a ser como era: eu, em nenhum lugar e em todos; ele, um moleque metido a canastrão que goza com o pinto alheio.
me deu até um calafrio.

ana now

não sabia se ela que girava
ou se o mundo girava ela
onde o real se formava ninguém previa
metade das imagens que via
metade do escuro dos olhos que fechava
abria suas portas em cabines telefonicas
banheiros de bar e postes escolhidos a dedo
e ainda acredita que me engana
pobre, ana

lantejante

as mulheres que convivo tem vontade de fazer sexo vários anos por mês, vários meses por dia, vários dias por hora, várias horas por minuto, vários minutos por segundo...
pode até parecer redundante,
mas eu tô quase fazendo um curso de bombeiro...
me negaram ao perceber que eu sou um fogo invisível.

tudo em volta está deserto

Algumas palavras só nos deixam a boca quando não se enxerga nenhuma cara.
O que são as expressões se não gestos vazios reacionados por movimentos químicos e estímulos elétricos das milhões de correntes que pulsam dentro de mim e não param porque não podem parar e continuam não parando...
Me olho e me vejo no limbo, no nada, ressecada, ressacada ou até alienada,
E me pergunto: seria o espelho a minha forma cristalizada?
Mas elas continuam a fervilhar dentro do meu âmago e ainda não estão parando...
Queria saber como sou vista, quem sou eu nos seus olhos, que sou louca, varrida, amelia, querida, um doce, uma flor, um mel, uma droga, um refluxo de puro fel
Isso eu já sei, não me basta...
Quero saber mais, me jogo de cabeça, sempre joguei, te amo, te digo que te amo quantas vezes você quiser, com essa cara, congelada, que pode valer alguma coisa ou nada, não sei, porque também não vejo nada dentro de mim
Nada...
Posso até surtir a dizer que sou vazia, que somos eu e você e eles e os outros e todos tão palpáveis quanto um balão de gás hélio solto em céu aberto com apenas finas camadas de cores pra se definir!
Alguns estouram rápido...
Outros chegam ao seu limite e murcham.
Quão absurdo é saber que o vazio explode.
Eu explodi.
Por isso escrevi mil e uma palavras que mal conseguia me lembrar
Liguei uma, duas, talvez sete vezes conscientemente sem querer, sem sequer pôr o telefone na orelha, só para forçar o seu nada atritar com o meu e quiça explodir.
Queria eu mesma ser algo mais palpável que o nada, algo definível e de caracter rico e valioso, algo memorável, mas sou só eu, só mais uma mulher desesperada para ser maltratada, que cada vez que re-le suas proprias palavras se prende nessa novela barata que se mostra cada vez mais tao insignificante e se forma cada vez mais tão relevante e no fundo é só mais uma coisa sufocante na vida de um nada pensante.

um breve aceno

vi a sua silhueta dois andares acima de mim
ontem estávamos dois andares abaixo, juntos
amanhã você estava chorando outros amores
o que repentinamente provocou a minha paixão
desperdicei a minha vida, agora me resta o pó

violence!

uma broca na ponte da generosidade
vou usar minha própria gaiola contra o mundo
levantem os falsos egos, e quebrem como se fossem nada!

FRÍGIDA FRÍGIDA FRÍGIDA
eles gritam do outro lado da calçada
mas no fundo estão morrendo de vontade de vê-la nua.

faço ela escolher a dedo:
o mais belo; o mais rico; o mais dotado
enquanto os castros seguram outro rabo entre as pernas.

metralhem qualquer função de imagem!
sóis melhor por ser interna,
escolhe quem te adentra e queima quem te nega!

...sky

diamantes pré formatados
congelando o cálice sagrado
não consegui voltar pra casa então bebi
descobri que era alcoolatra quando desisti
vem e me arrasta pelo caminho certo
o lado ao contrário do que me dizem os astros
preciso de mais válvulas pra fugir o pensamento
dessa máquina de escape que apaga a memória
preciso de mais fervorosos que deem algum sustento
desse suprimento terroso que em meu caminho volta
que saudades que eu tenho do que já foi a memória

involuntária

é complicado um amor cafageste
quando você descobre que ama
descobre que não ama só um
quanto menos reciprocos esses amores são
mais eles voltam e continuam sendo
de novo em um ritmo que de repente não pertence
deita em uma cama e sente o cheiro do outro
enquanto culpava os lençóis o problema eram os bigodes
coisa normal, todo mundo faz isso
de novo, de nada.
visto uma camiseta toda furada
cada um preenche um buraco
mas o tecido continua sendo outro

a ousadia é a pior das armas
e a beleza a mais fria cadeia
o calor do querer me afaga
enquanto a vingança me rodeia

abelardo

algum tempo depois fui entender do que se tratava.
uma história já há muito contada,
que antes de ter sido novamente concretizada,
já havia sido programada.

meio ao amor, angústia e desespero, recorto:

"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each prayer accepted, and each wish resigned;
Labour and rest, that equal periods keep;
"Obedient slumbers that can wake and weep;"
Desires composed, affections ever even,
Tears that delight, and sighs that waft to Heaven.
grace shines around her with serenest beams,
And whispering angels prompt her golden dreams."


volte noite

acordei em um lugar estranho, não lembrava de ter dormido fora.
ao me levantar, quase chutei dois grandes quadros de vidro que estavam encostados na parede e no chão.
fui até a cozinha e não hesitei ao pegar um pote bege e aguado com um queijo branco dentro,
comi um, dois pedaços, o celular estava sem bateria.
na parede, um relógio quadrado, torto, que só pra me ajudar não continha os números.
na cabeça, os flashes de carros e casas diversas, e os corpos e a falta de rostos.
posso ter sido violada, mas só comecei a sentir o corpo doer depois de cogitar tal possibilidade.
uma voz ecoa no fundo da casa,
entre palavras que eu já não entendo, talvez francês, talvez grego.
me alivia ser uma voz feminina, mas se eu pensar bem, percebo que não conheço nenhuma francesa e nem sequer grega.
foi uma noite fria, eu me lembro disso, mas o dia amanheceu num sol ardente e desesperador.
vesti o salto alto, quase dez centímetros, e torci para lembrar de alguém igualmente alto, mas não.
vestido colado, de manga comprida, preto - calor.
o portão estava fechado e eu pulei.
acho que é domingo, não tem ninguém por aqui.
melhor eu encontrar uma farmácia para garantir qualquer coisa.

beijo espelho

o problema é que quando você encosta em mim eu acho que é merecido, e pra merecer só pode ser porque você é parte de mim, transvestido de corpo e mente, provocando dentro de mim as maiores obsessões, eu narciso, do outro lado do espelho.
beijo espelho.
lentamente sugados por uma areia movediça de pó e poeira, que deturpa o próprio reflexo.
denovo:
"você sempre acha que está ficando maluca"
"dessa vez é sério..."

rap pa negra

esse mundo tá cada vez mais
grande
e a cabeça tá ficando
gigante
esse mundo tá cada vez mais
grande
e a cabeça tá ficando
gigante

tem tantas coisas que temos a fazer
mas agora não consigo
nem me lembrar
tantas coisas sempre pra fazer
mas a memória fica
escapar

esse mundo tá cada vez maior
mas a gente não fica melhor
microcosmos e redes sociais
ligando tudo tudo tudo aos policiais!

AH!

de perto são quatro,
de longe são mil.
estão todas escondidas
atrás da mesma fumaça,
uma lira, um sonho,
que se força a pisar no chão
pra dizer venha!
mas o mundo exaustor diz:
não.

o grito

quem sabe eu queria talvez qualquer coisa
na infelicidade, na falta do excesso
paradoxalmente falando no estado abusivo
- o imoral, aquele alucina -
te conhecer biblicamente
das mil formas que quiça já citei
em algum lugar ou para alguém
no paralelo das mil palavras
no erotismo do mais sofisticado
me completar de certa forma desconhecida
com você, uma atração deveras comum
de capa e de corpo
transformar a alma em um
e ler esses versos
suando os pelos
arrepiando os corpos
e pontuando com aquele som agudo
que só você

vous avez le feu?

enquanto um terceiro me trazia uma bebida, eu emprestava meu isqueiro para dois meninos, primos, que mal sabiam que já éramos conhecidos. uma festa alternativa e uma praia.
um moleque mais novo, uma graça, pedindo pra eu lhe mostrar o mundo.
um soldado americano, um argentino cafageste e alguns franceses perigosos.
eu não tinha reparado, só fui descobrir no carro de volta.
os meses mudam muitas coisas, não acreditei que você iria me impressionar.
acabei ignorando qualquer outro tipo de acesso e me mantendo em foco,
feliz no reencontro.
os meses mudam muitas coisas.
mas quando eu me dou conta, tal desastre:
a amiga sempre foi afim dele.

retira

"esse é um filme que nasceu na sua cueca
e você vai parir ele pelos olhos"

basta.

completamente embriagada
numa noite que durou 72 horas
e mais alguns dias.
desde sexta feira 13...
ai.

nothing you can’t do

músicas que eu gosto muito acabam demarcando um momento específico da vida.
uma pena, tão cedo e já se embolou nas redes da memória...

bem vinda de novo

eu não sei qual foi a palavra mágica, mas de repente, como se por impulso, eu tive de sair daquele carro. minha energia não fazia mais sentido ali, não com aquelas pessoas, não com aqueles humores.
eu estava a dois bairros de casa, tinha dinheiro no bolso, um celular com bateria, um maço de cigarro praticamente completo dentro da bolsa e isqueiro. tudo conspirava para eu ligar para alguém, nem que este número fosse o do táxi.
quando me dei conta, eu não tinha sequer parado para atravessar a rua, minhas pernas caminhavam sozinhas. desliguei o celular, joguei o maço de cigarros fora e guardei o isqueiro junto a meu dinheiro.
parei em algumas esquinas, mas sempre acabava optando pelo caminho mais longo. as calçadas pareciam interditadas, de tão vazias. uma e meia da manhã, a cidade não chegou nem perto de dormir. me senti em alguma equação galático-esotérica, os sons vinham dos carros ao longe.
fui atravessar uma avenida e notei dois rapazes, na outra faixa de pedestres, também esperando para atravessar. não sei dizer como eram, nem de onde vieram e nem como se portavam, mas consegui notar que eles me observavam.
olhei de volta, eles viraram a cara.
atravessei a rua, e eles estavam me olhando de novo.
olhei de volta, eles viraram a cara.
esse jogo permaneceu quarteirões, até nossos caminhos se bifurcarem.
dei uma última olhada, de longe, e eles estavam me olhando.
foi um momento estranho. não pareciam querer me roubar, estuprar ou qualquer coisa do gênero. teriam o feito em três segundos naquele vazio.
continuei meu caminho.
é diferente caminhar a noite, a distância de dois bairros aparentemente se dividiu. os carros não ocupam nem tempo e nem espaço. mas como toda regra tem sua excessão:
"ei, moça... ei, ei", eles repetiam sem parar até pararem do meu lado.
"acho que é um traveco"
"iiiiiih, é homem mesmo"
todas as luzes se apagaram e eu me vi torcendo para ser um traveco (pelo menos a surpresa ficaria pra eles).
continuei caminhando tranquilamente, novamente, pelo caminho mais longo.
e se você chegou neste ponto da história, tenho que evidenciar que o caminho mais longo era também o mais retilínio, não que isso mude alguma coisa, mas do meu ponto de vista mudou bastante.
apesar de tudo, meu corpo estava tão leve, mais tão leve, que eu mal sentia minhas pernas no chão. eu já não estava mais respirando, cada vez que inspirava parecia que o ar transpassava meu corpo. eu parti para um plano psiquico, que não estava nada retilínio, mas eu já tinha virado ar, então não tinha problema.
e neste ponto eu tenho que evidenciar outro fato: foi meu primeiro dia completamente sóbria em
semanas - bem, com excessão daquela única lata de cerveja aguada, que eu nem considerei.
passei por um caminhão, numa rua com o poste quebrado, em frente a um banco, uma igreja evangélica e uma igreja ortodoxa judáica, cuja até a entrada havia uma espécie de boulevard, com peões ajudantes sentados pelos cantos. alguns estavam carregando algumas coisas, enquanto parte descansava.
eu não ouvi nem um boa noite. nem um pio. nem um som deles trabalhando.
por um segundo na minha cabeça me vi em um mundo onde as pessoas não emitissem sons, mas quando concluí a idealização já tinha alcançado um caminhão de lixo, que pelo contrário, era muito barulhento.
porém, nele noticiei mais um fato curioso: três lixeiros, todos segurando no caminhão -que dava ré- com a mão esquerda, apoiados com a perna esquerda, deixando os dois membros do outro extremo completamente livres, balançando juntos como um nado sincronizado.
eu esbocei um aceno, mas desisti, já estava me sentindo a parte demais para liberar a minha esquizofrenia na rua.
então continuei, sem achar nada daquilo absurdo. cheguei em casa, acordei o porteiro, subi.
e aqui nós estamos de novo, no caminho do bem.

gigolô light

nota de última hora:
- tomar muito cuidado com vernissagens, saraus, mostras e quaisquer outros tipos de eventos sociais pseudo-intelectuais
- não se sustentam sozinhos, afinal, estão sempre a deriva de algum negócio inacabado
- irritantemente cultos e atualizados
- nunca introduzem suas casas
- se arriscam na cozinha
- "BONZINHOS"

bons dizeres de alguém muito mais sábio que eu.
serão atualizados quando conveniente.
jogados nas redes abstratas para jamais serem esquecidos.
obrigada pela atenção.

uma boa idéia

quem diria que seriam 51?
por mim chegaria ao mil, no entanto, não vejo mais horizonte.
essa história fazia sentido enquanto era sobre você e depois sobre eles.
agora só eles existem,
você não.
levando em consideração que quero apagar qualquer resquício de você da memória,
acredito que terei que deixar essas 51 boas idéias de lado.
pode ser que eu volte, eu sei que vou voltar,
mas por enquanto preciso urgentemente me despedir,
pra conseguir por um ponto final nessa história.
(afinal, já temos material suficiente pra uma saga)
"sister don't get worried because the world is almost done"

arrivederci

tá, sei que te amo o suficiente pra nunca mais te ver na vida.
murphy ficou do meu lado todo esse tempo de desencontros,
mas dá medo de pensar nos acasos que ele está preparando.
enquanto eu puder evitar, adeus.
que fosse pra sempre.

eros,


você é simplesmente o homem mais bonito que já cruzou comigo em toda vida.
arrepia os pelos da nuca de qualquer garota, muitos delírios.
você deve achar todas elas idiotas, já que nenhuma consegue conversar com você direito.
inebria.
cada vez que converso contigo fico pensando porque eu não estou te agarrando ainda.
mais muitos delírios.
lembro bem daquele dia que você me encontrou no meio da rua e me deu uma carona
eu quase não consegui sair do banco do carro.
mais muitos delírios e eu derreti.
trilhas do caos ao cosmos.


anseios de mentira

eu odeio quando você despreza
dai passei a ver outra coisa
outro jeito e outra persona
começou aquele dia
tinha luz demais pra recompor a cabeça
precisava só de um lugar pra afogar
ou ao menos afundar
qualquer coisa que fosse resquicio de desprezo
mas dai passei a ver outra coisa
eu odeio quando vc despreza
o meu jeito e as mil personas
parei com as moléstias e de aparecer,
eu odeio quando me julgam.
eu odeio quando me julgam,
quando esperam alguma coisa de mim
que não seja o que eu quero fazer
ou acho certo, ou possível.
e eu vou sumir por conveniencia
por anseio de mentira
que vira tudo do avesso
e transforma você em outro
outro jeito e outra persona
por repetição do tempo
e autoafirmação da alma
dentro desse velho contexto
que não faz sentido nem me acalma
no final, tudo ísso é mania de abismo
é mentira de qualquer jeito
a arte é pregada e não discutida
não tem o que aceitar
porque não há perguntas dentro dessas respostas
só anseios
só mentiras.

pamonhas, pamonhas, pamonhas

pamonhas de piracicaba com toda sua tradição, sonoridade e raíz dominam a cidade de São Paulo.
há anos eles se escondem pelo subúrbio da cidade só produzindo novas gerações de pamonhas
mulheres relatam e protestam contra a dificuldade de encontrar héteros provenientes de pelo menos um cérebro dentro da caixa craniana.
uma delas ainda completa -
"...não que na hora H isso importe muito..."
agora imaginem vocês se eles tivessem dois cérebros.

reticências

odeio ter que dar tchau, por isso eu sumo.
mas pra ser bem sincera também
fico triste quando você não procura.

ruinas de ruidos

nunca tentei compreender nenhum dos silêncios
mas quando lanço meu jogo de palavras sou obrigada a ouvir:
"vai te entender" - sem nem saber o que há pra entender
não questionei seus silêncios
de novo
tentando ligar as palavras ao signos
as estruturas mais chatas e falhas
discurso de novo
não deixam elas serem só palavras, só ruídos,
só cortes secados com alcool,
entende?
não é pra entender.
é desprezo.
agora diz que não gosta de ser julgado
no mesmo momento que está julgando
é desprezo.

você morre?

ela me cortou o braço e o peito com uma faca, na frente de uma multidão.
eu gritei, falei as coisas mais horríveis, desejei a morte.
as pessoas vieram contra mim, ignorando meu sangue, choro, meu desespero, minha dor
as palavras não só machucaram a garota como todos em volta.
eu tentei me explicar, mas a posição tomada pelo juri era irreversível.
respirei desespero, injustiça, quis me matar, mas passou.
uma semana depois ela me cortou o outro braço e o outro peito.
eu gritei, falei as coisas mais horríveis, desejei a morte, e novamente não tive ninguém do meu lado
sentei no chão, aos prantos, me apertando contra mim pra ver se o sangue parava.
uma criança pequena se aproximou e perguntou
"você morre?"
"como?"
"você morre."
as pessoas ainda não perderam o medo da palavra,
o problema é que ele está no signo.

de chocolate

"eu não sei por que fazem cores tão parecidas,
trinta e sete tons de vermelho diferentes,
e eu tenho que decidir entre trinta e sete coisas
praticamente iguais
praticamente iguais"

fatale

here she comes...
you better watch your step
...
she's going to break your heart in two, it's true.
ela sempre faz isso.
com esse olhar de quem já está nua por maior que seja o casaco de pele que ela use.
senta, prende os cabelos no alto, deixa o olhar se perder, faz ele se encontrar ligeiramente e lança um sorriso simpático só pra provocar.
ela não te quer, mas faz de tudo pra você pensar o oposto.
não é calculado.
percebi um dia qualquer ao espiar ela chupando um pirulito sozinha.
'cause everybody knows...
(she's a femme fatale
)
the things she does to please...
(she's a femme fatale
)
she's just a little tease...
she's a femme fatale.

das nuvens e dos versos

ela é uma menina sensível, intuitiva, imprevisível
ele é um apaixonado; pela arte, pela história, pela técnica, por ela...
um dia ele quis entender a formação das nuvens e eles se encontraram
ela estava viajando.
ele constrói o que ela vai destruir.
apesar da tristeza e da raiva que guardam,
se amam pelo simples fato de se manterem em movimento.

sem frascos

hoje em dia todo mundo sabe sobre tudo
mas na hora de decidir algo é sempre: não sei
realmente, tem muitas opções nessas prateleiras.

eu sei que é assim


da piscina, da margarina, da carolina, da gasolina
você precisa saber de mim, me ver de perto
precisa aprender o que eu sei e o que eu não sei mais
it's time now to make up your mind, look here,
read what i wrote on my shirt: há quanto tempo...

estranho mundo sensorial

arrepio na boca do estômago.
calafrio da nuca pra fora.
coração que bate como se fosse esponjoso.
pés sem fluxo sangüíneo.
chego a pensar que meus sentimentos não se exprimem mais por palavras.
mas encontrei uma imagem que demonstra exatamente:

opaco

sem matéria alguma
ausência de raios e partículas
de que se constitui a sombra?
não luz.
não acredito.
é só ausência, mesmo.

sufocon

neste momento todas as palavras presentes nesse sítio não se leem em harmonia
elas perderam a força em algum lugar entre os neurônios e os nervos
mandaram dizer que a idéia de estrutura se bananalizou
o mundo agora lê pra dentro

preto

hoje não tem música nem rima que me salve
meus batimentos cardíacos perderam o ritmo
e dentro da mente - o infinito
tão abstrato quanto um buraco negro

paráfrase

vocêvocêvocêvocêvocê
vocêvocêvocêvocê
vocêvocêvocê
vocêvocê
você
...
..
.
até
...
não
..
ser
:
tu
..
tu
...
tu

em abril, a real

faço perdida meus poemas desolados
versos encorpados vividos em diversos corpos
todos ventriculados e reestruturados pra alcançar teus olhos
grande parte das vezes tão herméticos que até eu perco os sentidos
mas jamais perco as sensações, os cheiros pregados em quadros fechados
eu só continuo a escrever porque um dia tudo isso aqui vai virar uma história
eu só continuo a escrever porque eu finjo que tudo isso aqui influencia a nossa história.

lírio

finalmente, seis meses em uma seca angustiante,
querendo chorar, sem conseguir, presa.
hoje caiu a primeira lágrima, e me impressionei que foi logo por tua culpa,
logo você, gay
mas que fugiu de mim e me deixou desolada,
sem saber o por quê, nem nada,
sentada com a última pétala do teu lírio na mão,
eu fico aqui pensando em você e esperando pela próxima lágrima.

mímica

perto de você sou torrada,
chocolate,
crocante,
caramelo,
doce de leite,
açúcar mascavo,
pingada.
contrastando com a cores de nuvens que me envolvem,
entre celeste, cinza, branco.

é uma pena eu não ser mais morena,
é uma pena eu não ser mais sua pequena.

queimado

eu te quero muito,
as vezes só percebo isso quando passo cinqüênta segundos sem respirar durante qualquer diálogo completamente banal contigo.
eu fantasio que você me quer,
algumas vezes quase tive certeza absoluta que você também perde o ar,
ou pelo menos fica com as pernas bambas
cada vez que vejo os recados daquela tua mulher tenho mais vontade de te provar que eu sou melhor,
mas isso é só um papo de perdedora,
me descabelo, volto a respirar, logo logo passa.

caixa vazia

o carro de polícia estava alguns quarteirões acima, mas isso não me impediu de ouvi-lo.
entre buzinas, motores, conversas e caos, eu ouvia os passos daquele menino que descia a rua.
fazia aquele caminho todo o santo dia, mas ele parecia outro.
ouvimos mais quando não se tem nada a mais na cabeça além dos ouvidos.

profana.

sempre me pediam para guardar minha lingerie no final da noite, mas pra qual finalidade?
não dava, pelo menos não a lingerie.
comecei a pedir para que eles me dessem um presente de recordação.
compre o que mais lhe agrada, vestirei na última noite
para eu lembrar do teu choro cada vez que usar de novo.

the past is a grotesque animal

vamos destruir aquele bixo de sete cabeças
sem perceber, de repente, completamente errados

the sun is out, it melts the snow that fell yesterday...

e qual é a diferença nisso?
e qual é a diferença,
se é noite.
e nos apaixonamos por todos
basta ter algo em comum
viciados, tarados, bastardos
ao fundo, eles continuam cantando:

it's so embarrassing to need someone like I do you
how can I explain, I need you here and not here too
how can I explain, I need you here and not here too
how can I explain, I need you here and not here too
how can I explain, I need you here and not here too
...


a letra já mudou, mas é essa frase que fica presa na minha cabeça,
mas pode deixar que eu assino os créditos, como eles chamam, desastre

things could be different but they're not
things could be different but they're not
things could be different but they're not
things could be different but they're not
...


e travou de novo.
recomeço a música.
de repente todos se envolvem nesse desespero,
dentro daquele mundo, daquela música,
com armas apontadas cara a cara, com balas de ódio apaixonante
como eles dizem, desastre e crueldade são previsíveis
mas de algum jeito parecia ser certo, só faltou virarmos pessoas normais
e eu achava que isso nem existia
e era tudo o que eu queria

let's just have some fun
let's tear this shit apart
let's tear the fucking house apart
let's tear our fucking bodies apart
but let's just have some fun


duro, rígido, frígido, profundo e mofado,
nada mais pode te destruir

i find myself searching for old selves

e invento mil desculpas pra que nada mude

sometimes i wonder if you're mythologizing me like i do you
mythologizing me like i do you
mythologizing me like i do you

MYTHOLOGIZING ME LIKE I DO YOU
...


parece que essa música não acaba nunca...
mas eu não quero que ela acabe agora,
mas também não existem mais palavras
capazes de serem respiradas
não mais palavras a serem colocadas,
eu deixo com você,
Kevin:

but teach me something wonderful
crown my head, crowd my head
with your lilting effects
project your fears on to me, i need to view them
see, there's nothing to them
i promise you, there's nothing to them
i'm so touched by your goodness

YOU MAKE ME FEEL SO CRIMINAL


não importa aonde a gente esteja
nós sempre vamos estar interligados
enrolados entre os mais obscuros cabos

i've explored you with the detachment of an analyst
but most nights we've raided the same kingdoms
and none of our secrets are physical
none of our secrets are physical
none of our secrets are physical now
none of our secrets are physical
now
none of our secrets are physical
none of our secrets
now
none of

.

nem aqui

as palavras já não me cabem mais,
se acorrentaram em pensamentos
ficaram maiores que minha mente,
voaram pra lá.

segundo desfoque

eu lembro das primeiras impressões e não diria que são as que ficam.
foram elas que me instigaram a desvendar todos os mistérios cravados naquela mente, daquele moleque.
assumo que quando me deparei com essa situação pela primeira vez, não soube lidar;
alguns vieram depois, e eu já conseguia prever cada passo, por mais densos e desengonçados, por mais emaranhados que fossem aqueles pensamentos.
você me fez jurar nunca acreditar no que via.
volta e meia aqueles mistérios absurdos me seduzem.
me fazem querer saber mais.
e tudo o que eu te digo é que eu ainda não acredito.

cortinas de veludo

já visitei os lugares mais absurdos,
em todos os tipos de escuro,
imagine só a vida sem tais intervalos
você aprecia a visão e eu idolatro a pálpebra.

Tildo Salgado

A boca cheia de soja, ou seja, sede.
Não que eu esteja falando de água.
Eu só queria que não amanhecesse o dia, que não chegasse a madrugada...
E foi só enxer a boca com tais palavras que eu consegui ser ouvida.
O telefone tocou e os pensamentos eternos se apagaram.
Chiclete.
Você.
Esquizofrenia estranha, daquelas que eu finjo atração.
Já eu, nem me esforço pra te atrair.
No entanto, ele tem o mesmo sobrenome,
Tildo Salgado.
Quanto é o chiclete?
Obrigada. Vamos pro bar?
Daqui a pouco.
Eu gosto dos sim's e não's.
E foi-se embora com o Tildo Salgado.

já eu só queria amor, amor e mais nada.

abuso e mofo

se eu disser que nunca mais te vejo,
pode ter certeza que nunca é um tempo que eu não domesticaria
mas se eu disser que nunca mais te beijo é pra sempre.
controlo aquele sentimento que sufoca,
de abuso e abismo.
*
não sei se te falta coragem ou gozo.
*

imaculada

saiu da escola
saiu da faculdade
saiu sem nada ter entrado
só de pensar que é virgem - vertigem
ainda sonhava com uma gravidez imaculada
saiu o filho sem nada ter entrado

esculturas

volta e meia vem você com esse papo que eu não admito
de pau pedra e pinto.

raizes


depois de alguns passos caminhados, enquanto procurava meu alicerce, notei que o objeto de tal busca encontrava-se não só em um lugar, mas num sistema radicular complexo que envolve todos os passados, presentes e futuros, de acordo com cada época vivida.

Lars von Trier certa vez representou as raizes das árvores como corpos copulando.
os xamãs enterram os mortos em troncos porque acreditam que só assim podem renascer.
só então consegui compreender esta fotografia que tirei, que há tanto me intrigava.
o que me fez perceber que minha busca foi só mais um sintoma da minha imaturidade.

youth like diamonds

Eu gosto de me lembrar daqueles dias em que a gente escolhia cuidadosamente o vinil, deitava no chão - porque aquele era o lugar mais gelado da casa - e colocava aquela vitrola velha, feia, pequena, pra rodar o que logo seria a nossa voz. Então eu deitaria em cima do seu braço, você dormiria entre uma frase e outra, e eu faria as promessas mais lindas de amor ao mesmo tempo em que acariciaria todo o contorno do seu rosto até o seu ombro.
"Heaven can wait, we're only watching the skies"
Se eu não me engano isso nunca aconteceu simultaneamente pra nós dois.
E arde dentro do peito aquela vontade de cantar todas as músicas, e as letras de músicas mais intensas, pra todo mundo ouvir.
Mas eu seleciono apenas algumas frases, grito:
LET US DIE YOUNG OR LET US LIVE FOREVER!

shoot shoot

eu disse que te encontraria e o fiz.
por se pensar o mais solitário
se porta com uma postura insana,
e acredita ser aceitável,
até sacar a metralhadora e estilhaçar
os incorpos
-
aquele sentimento abstrato.
se alguém o fizesse, seria você.
"mother superior jumped the gun"
em sussurros
eu disse que encontraria,
bang bang shoot shoot...

petit four

naquela época acompanhava outras matilhas
mais um minimamente ninguém
parado aonde águas borbulham,
aonde as xícaras se lavam,
te vi por aí de repente de novo
dentro das xícaras as bolhas de sabão
e colocaram a água no fogo outra vez
por desventuras o plástico deixou lembranças
aquela noite marcada em carne viva
aquele cheiro exótico e amanteigado
de vícios encarnados em virtudes

primeiro desfoque

Fidel Castro tinha passado o governo de Cuba a seu irmão
Múmias de Freiras haviam sido encontradas por acaso.
Foi nesse meio tempo que a nossa história começou.
Qualquer informação tão trivial seria inibida pela juventude.
E nós?
Eu me lembro das palavras de Orson, que logo se impregnaram em minha cabeça:
"Um sonho não é nunca uma mentira"

Aquela menina, aquela branquela.
Pele lisa, seca.
Pele marcada, molhada.
Se faz de moleque, mas colado em sua retina: um homem.
Isso era de se notar não só no olhar.
Aquele molejo vinho, direto, vinha da cerveja.
Queria poder conversar mais, mas estampo o sorriso na cara.
Eu encho o copo dele e ele me enche.
Enquanto em sua cabeça cantarolava:
"And the coloured girls go:
doo do doo do doo do do doo...
"