não me perde

guardei um daqueles bilhetes improvisados no meio de lembranças que não são minhas
foi só uma tentativa de fazer você pensar em mim antes de lembrar dela
dobrado entre cheiros de pele, calor e semente,
com palavras que eu já nem me lembro,
misturadas com algumas sensações estranhas
que talvez fossem respostas pra mil daquelas perguntas caladas

mistérios

os que já se envolveram em minha trajetória bem sabem que sofro por não conseguir decodificar toda minha aura de sentidos em simples palavras ou imagens. me veio a razão de que talvez isso também ocorra em todos meus casos, pra ser sincera, diria até em todas as relações sociais. notei então que sofro de uma necessidade primitiva, quase extinta, de me ver pelos olhos do outro, no entanto de forma a entender exatamente como é que o outro vê. logo, não é simplesmente saber o que pensam de mim, e sim entender como a formulação de pensamentos de meu próximo funciona para conseguir então selecionar a parte do meu ego que deve ser exibida pra este tipo específico de pensador.
vou exemplificar para não parecer tão hermético:
considerando o mundo dividido entre pessoas com a visão normal e pessoas com a visão "danificada" - os famosos daltônicos - quem é que está errado ao dizer que vê a cor vermelha?
afinal, vermelho não é somente um signo atrelado a um espectro de luz que reflete vermelho? se o daltônico vê outro vermelho que não o meu, não quer dizer que ele não esteja vendo vermelho, certo? afinal, para ele, vermelho é simplesmente aquela determinada porção, independente da cor real que aquilo tenha.

aonde eu quero chegar com tudo isso é:
todos vemos vermelho, mas cada cabeça o compreende de uma forma.
e é isso que tem me frustrado, saber que as pessoas se limitaram ao ponto de considerar-me uma louca por cultivar essa singela vontade de compreender esse outro mundo dentro de mim.

em breve virei com mais desenvolturas sobre este tema, enquanto isso deixo fragmentos:

com sírio

ventrar
seandrentar
cemtrar
trentar
ser
trer
enceter
sinverter
centreter
ventreter
converter
e se submeter.

sem sírio

não me adianta nada escrever um post que ninguém vai ler
assim como não me adianta nada eu tentar ter nexo
sou cruel, sou um amor, sou boçal
vim direto de um cinema marginal
para acabar com algumas vidas.
eu estou aqui pra mudar a história do cinema,
não sou ou sequer serei Godard,
tive minha criatividade corrompida por este lugar
mas tenho o mais puro sentimento dentro de mim
e a certeza de que vou sabotar.