no mar imenso

deixaria pro ano que vem...
mas uma hora ou outra todas as vontades se acumulam.

queria te ver, 
(deu uma vontade muito doída e apertada de te ver)
queria fazer o nosso filme, 
filmar a brisa do mar, ouvir as luzes flicando...
queria terminar a nossa música,
só pra ver todo mundo dançando alegremente as nossas custas
queria ter feito aquela nossa viagem,
como quando desci a rua correndo e peguei o último ônibus só pra te encontrar
queria ter escrito um livro,
com todas as poesias que já te escrevi, com todas as histórias que já inventei contigo
queria que você me olhasse,
só mais um pouco, um pouquinho, demorado, pra entender a carne absorvendo a gente
queria que você me levasse a sério,
mesmo depois de todas as nossas risadas soltas e piadas bobas,
mas já estou chegando em coisas que não cabem a mim decidir
queria não continuar querendo isso tudo,
e nem imaginar que num dia de ócio você vai vir aqui e se dar o trabalho de me ler
enquanto eu, desesperadamente, entro e releio todos os dias essas palavras, 
até encontrar com o impulso de deletar e desistir, e voltar pro zero de novo.
queria que você cansasse de ficar sozinho,
ou que me machucasse forte o suficiente pra eu nunca mais te querer.
queria que você cansasse de ficar sozinho,
e mesmo sabendo de tudo de ruim que pode acontecer no nosso caminho,
queria que você tentasse,
só um pouquinho.
queria acabar com todos esses desejos de ano novo,
e não ficar esperando a sua ligação no primeiro dia do ano.





Caetano está cantando aquela música que você me mostrou:
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto você
Mar aberto
Mar adentro
Mar imenso
Mar intenso
Sem Cais


questiono a lembrança

ontem acordei desassossegada
a testa de suor dos sonhos incertos
caíram todas as tempestades
ruíram todos os solos
e ao acordar
todas as memórias criadas
pra justificar completo desespero.

nos traços das traças


aqui, onde as mariposas morrem em cima da mesa
o tempo é sócio do vento
aqui, onde as mariposas flanam, 
já não voam porque cairam
com a dor do ócio
do tempo fóssil
museu do vento
a sorte aqui não é contento,
a qualquer momento
vem o lembrar
se fui feliz
se foi...
como vento
se movendo
com asas batendo.