volte noite

acordei em um lugar estranho, não lembrava de ter dormido fora.
ao me levantar, quase chutei dois grandes quadros de vidro que estavam encostados na parede e no chão.
fui até a cozinha e não hesitei ao pegar um pote bege e aguado com um queijo branco dentro,
comi um, dois pedaços, o celular estava sem bateria.
na parede, um relógio quadrado, torto, que só pra me ajudar não continha os números.
na cabeça, os flashes de carros e casas diversas, e os corpos e a falta de rostos.
posso ter sido violada, mas só comecei a sentir o corpo doer depois de cogitar tal possibilidade.
uma voz ecoa no fundo da casa,
entre palavras que eu já não entendo, talvez francês, talvez grego.
me alivia ser uma voz feminina, mas se eu pensar bem, percebo que não conheço nenhuma francesa e nem sequer grega.
foi uma noite fria, eu me lembro disso, mas o dia amanheceu num sol ardente e desesperador.
vesti o salto alto, quase dez centímetros, e torci para lembrar de alguém igualmente alto, mas não.
vestido colado, de manga comprida, preto - calor.
o portão estava fechado e eu pulei.
acho que é domingo, não tem ninguém por aqui.
melhor eu encontrar uma farmácia para garantir qualquer coisa.

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