tudo em volta está deserto

Algumas palavras só nos deixam a boca quando não se enxerga nenhuma cara.
O que são as expressões se não gestos vazios reacionados por movimentos químicos e estímulos elétricos das milhões de correntes que pulsam dentro de mim e não param porque não podem parar e continuam não parando...
Me olho e me vejo no limbo, no nada, ressecada, ressacada ou até alienada,
E me pergunto: seria o espelho a minha forma cristalizada?
Mas elas continuam a fervilhar dentro do meu âmago e ainda não estão parando...
Queria saber como sou vista, quem sou eu nos seus olhos, que sou louca, varrida, amelia, querida, um doce, uma flor, um mel, uma droga, um refluxo de puro fel
Isso eu já sei, não me basta...
Quero saber mais, me jogo de cabeça, sempre joguei, te amo, te digo que te amo quantas vezes você quiser, com essa cara, congelada, que pode valer alguma coisa ou nada, não sei, porque também não vejo nada dentro de mim
Nada...
Posso até surtir a dizer que sou vazia, que somos eu e você e eles e os outros e todos tão palpáveis quanto um balão de gás hélio solto em céu aberto com apenas finas camadas de cores pra se definir!
Alguns estouram rápido...
Outros chegam ao seu limite e murcham.
Quão absurdo é saber que o vazio explode.
Eu explodi.
Por isso escrevi mil e uma palavras que mal conseguia me lembrar
Liguei uma, duas, talvez sete vezes conscientemente sem querer, sem sequer pôr o telefone na orelha, só para forçar o seu nada atritar com o meu e quiça explodir.
Queria eu mesma ser algo mais palpável que o nada, algo definível e de caracter rico e valioso, algo memorável, mas sou só eu, só mais uma mulher desesperada para ser maltratada, que cada vez que re-le suas proprias palavras se prende nessa novela barata que se mostra cada vez mais tao insignificante e se forma cada vez mais tão relevante e no fundo é só mais uma coisa sufocante na vida de um nada pensante.

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