âncoras

ali, numa escuridão infinita,
seria quase uma cegueira se não fosse pelo horizonte tão nítido.
eles seguram a minha mão, mas não sei quem são, aonde pisam.
a cada passo o horizonte caminha junto.
dá pra chegar? existe um lugar?
cada braço me leva pra um lado - tudo ao mesmo tempo,
o corpo não se desmembra.
minha vontade de ir pra cima ancorada em diferentes portos, paradas.
gravidade, você me coloca pra baixo.
o mar de vozes aflitas, confusas, tempestuosas, não sei se navego ou se me afogo.
inércia.
a mente vai aonde o corpo leva.
a densidade da água me eleva.
é tudo tão escuro que não existe lembrança, saudade, imagem.
fica só uma vontade latente, pulsando, se desmembrando ferozmente.
pediram pra ela ir embora e ela foi sem deixar a calmaria.
mas o agir sem a vontade voa e se afoga.
são portos perdidos no breu de um nada,
os barcos navegam sem vento, sem água.
ainda o horizonte tão nítido e se distanciando...
acho que estou cega aqui, imaginando uma linha reta qualquer.

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